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quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Ao Eremita meu Avô - Voz poética de Fátima Alves - Poetisa da Caatinga



Ao Eremita Meu Avô!
Herculano Batalha do Rêgo
(in - memorian)

Há muito tempo meu querido avó
Sinto vontade de escrever sobre você
E hoje tive coragem de retratar por palavras
Um pouco do seu jeito de viver...
Um jeito único no meu universo familiar
Pois não conheci nenhum outro semelhante
Mesmo fora da família
Você meu amado avô!
Era diferente de todos os homens que conheci
Você não parecia com gente
Seu perfil era de anjo
Um anjo habitante da montanha
Protetor de toda a natureza...
Você vovô foi eremita
Por mais de quarenta anos
Contam-me...
Que foi desde a morte de minha avó
Sua esposa querida Rita
Uma mulher quase menina
Que faleceu durante o parto da minha tia Antônia
Eu nunca lhe perguntei sobre isso
Porque enquanto criança
Tinha receio de tocar nesse assunto
Mas logo cedo, quando aprendi a ler
Percebi que você era um eremita
E que conseguia viver sozinho
Completamente isolado do mundo civilizado
Isso eu sempre admirei!
Como eras, desprendido do mundo material!
Teu mundo era as montanhas
E seu casebre ficava no morro mais alto
Da nossa comunidade familiar
Fato que lhe mantinha isolado
Mas também contemplativo
E vigilante do nosso universo
Daquele nosso mundo
Que por natureza era escondido e isolado
Das outras comunidades
Toda a sua família morava ali
Na mesma comunidade
Mas você não visitava ninguém
Só saia de casa para ir na cidade
Comprar algo que precisava no dia a dia
Como: açúcar, grãos de café, bolachas e outras coisas
Que na roça não existiam
E parecia não sentir a necessidade de ser visitado
Mas a gente lhe visitava sempre
E ficávamos vários dias com você
Naquele casebre que mal nos protegia da chuva
Pois não tinha mais paredes na maioria dos cômodos
E a gente nem tinha medo
Dormíamos olhando as estrelas
Pelos buracos das paredes e frestas do telhado
Estar com você vovozinho era estar na paz
Pois no seu casebre tinha sempre um fogo aceso
E sua rede armada perto do mesmo
Ali não havia frio!
E havia acima do fogo uma chaleira de café ou chá
Pendurada por um arame
Que nunca esfriava
Estava sempre quentinha para ser servida
Ao lado da parede tinha uma mesa com gavetas
E acima desta mesa, alguns quadros de sua crença católica
Na casa havia vários bancos e baús
Além  de pratos, inclusive alguns de barro
Colheres ,alguidares e panelas
E nessa simplicidade você era feliz
Disso tínhamos certeza
Porque todos nós amávamos o vovô Herculano
E quando chegávamos em sua casa
Era notável sua felicidade
Logo ficávamos neste espaço da sua rede e do fogo
E Você nos contava histórias
Cantava suas músicas
E falava das criaturas do outro mundo
Só saia da rede pra cuidar da pequenina roça
Pegar água no olho d’agua
E alimentar seus cães e gatos
Os quais eu adorava!
E foi de você e do meu bisavô
Que penso ter herdado
Um amor eterno pela natureza
E em especial pelos cães.
E mais ainda...
Eu também gosto de viver reservada
Cuidando da natureza
Meditando sobre a vida
Minha e do outro
E escrevendo...
Ah Vovozinho!
Fostes tão importante na minha vida!
Que até hoje, ainda sonho muito com você
E em cada sonho me vejo sendo sua neta menina
Aquela que você muito adorava
E ensinava a rezar...
Hoje eu não tenho nenhum retrato seu
Mas te vejo sempre em minha mente
De calça preta e camisa azul celeste
Indo a cidade com um jumento e caçuás
Para receber seu aposento e fazer pequenas compras
Nas quais vinham nossas deliciosas bolachas
Pra nos serem oferecidas em cada visita...

Ah! Vovô Herculano!
Eu penso que um coração eremita nunca morre...
Se eterniza pelo amor!
***
Maria de Fátima Alves de Carvalho ( Poetisa da Caatinga)
Sua eterna neta...
Natal, 15.12.2010
 Texto publicado na coletânea " Família - Doces Lembranças"
Editora : PerSe




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