Foto de Fátima Alves/ Poetisa da Caatinga
Nós do semiárido pouco sabemos
sobre a importância de respeitarmos as peculiaridades da Geografia da nossa
Terra. Estou falando do ponto de vista científico. Pois na visão popular
sabemos muito, e temos também muita coisa para ensinar aos pesquisadores.
Porém, essa nossa civilização "MODERNA", inventa práticas enganosas
que levam nosso povo a derrubar grandes extensões de mata, simplesmente para
fazer carvão e vender quase de graça, para churrascarias, pizarias,
restaurantes, e principalmente para as fábricas de cerâmicas. também se
derruba a mata para vender estacas que servirão para fazer cercas com arame
farpado. tudo isso parece pouco, mas são justamente essas práticas que vêm
desertificando vários pontos do semiárido.
E existem outras a meu ver, ainda
bem mais danosas, nas quais a mata é derrubada em grandes extensões, para
nascer pasto ( plantinhas rasteiras) ou plantio de capim, destinado a criação
de gado leiteiro e principalmente, de bois e vacas para abates ( cortes). Uma
triste realidade, que não me permite mais há vários anos, comer carne
vermelha, uma vez que percebi essa crueldade, na qual em nome do lucro, somos
incentivados a tê-la em nossa mesa todos os dias da semana. Porém, quase
ninguém percebe que o simples ato de comer carne todo dia, além de ser
prejudicial para a saúde, vai exterminando a mata, acabando da terra seus nutrientes,
tornando-a infértil e nos trazendo no futuro, vários desertos como prêmio
pela nossa "RACIONALIDADE IGNORANTE".Com tantos saberes, se omitem
ou não querem ver a finitude dos recursos naturais do lugar onde vivemos.
Eu vivi, 20 anos no campo, numa
linda Serra, a comunidade era familiar e tinha práticas comunitárias nas
quais todo mundo se ajudava. A mata era derrubada e queimada, para se fazer o
roçado, mas em porções suficientes para a nossa sobrevivência. E considero,
que nossa vida tinha muita qualidade, bastava apenas ter chuva suficiente
para assegurar a colheita. Se não tivesse, passaríamos até muita fome, mais
isso, é outra questão, trata-se da falta de políticas de Estado, voltadas
para a prevenção das secas, uma vez que estas, podem ser processos naturais e
fazem parte do Bioma Caatinga. Esse manejo da terra, que os pequenos
agricultores ainda usam, permite que depois da colheita , a roça seja
plantada mais uma vez, depois vira capoeira, (um termo do meu lugar) e vai
descansar por vários anos. Voltando novamente a ser mata. É uma prática
popular dos pequenos camponeses, que de certa forma respeita a natureza,
retirando dela só o necessário.
E atualmente, as terras da nossa
antiga comunidade, hoje é mata fechada com fauna e flora preservada, porque
seu povo a usou de forma equilibrada e sem ganância . E como eramos uma
comunidade familiar e pobre, veio uma temporada de seguidas secas e aos
poucos, esse nosso povo foi migrando para outros lugares, até enfim, sair a
ultima família. E quem saia, vendia suas terras, Meu pai foi o penúltimo a
sair dali. Em seguida sua irmã. E depois, extinguiu-se A Comunidade Batalha,
que vivia num lugar chamado Serra das Almas, Localizada no município de São
Miguel/RN. E foi lá onde nasci e prendi a conviver com muitas leis da
natureza, sem precisar de ir aprender na academia... Lá a gente aprendia
imitando e seguindo as práticas dos mais velhos...
***
Fátima Alves / poetisa da Caatinga
Natal, 03 de março de 2012
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Este espaço, tem como objetivo principal, divulgar as vozes poéticas da caatinga nordestina,em grandeza, beleza e dificuldades...Vozes daqueles(as) que vivem a respirar pela arte, o silêncio e os gritos do povo e da terra deste lugar... Mostraremos retratos sentimentais de um bioma rico em diversidade de vidas e culturas, mas que no entanto, pouco é estudado, e menos ainda compreendido...Um bioma que muda a cara para sobreviver as prolongadas estiagens...
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terça-feira, 23 de outubro de 2018
Aprender a conviver com as peculiaridades da Geografia do Semiárido - Fátima Alves
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